quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O Sonho e a Mágoa

Possuirmo-nos um ao outro
Foi um sonho que se desvaneceu
Quando tiveste que partir.
Sentir o teu corpo tocar o meu
Foi uma ilusão breve que,
Em seguida, me abandonou,
Deixando-me cair num precipício
De uma realidade que conhecia
Mas que deixei esquecida
Numa felicidade efémere.

O adeus foi algo doloroso
Que me acordou de um sonho
Onde dizias "só nós dois"...
E eu me entregava a ti
De corpo e alma, ignorando
A mágoa que me esperava,
Paciente e implacável...
Com ela fiquei quando partiste.

A Dor de te Perder

Foi algo que nunca esquecerei
O que só tu me fizeste sentir...
O prazer da tua pele na minha,
Sabendo que seria só por momentos
Foi acompanhado pela dor de saber
Que não mais te iria sentir!

O calor do nosso prazer
Com o fundir dos nossos corpos
Misturou-se com o gelo
Da brevidade desta união.
E no meio de sussurros ternos,
Soube que não mais te iria sentir!

A dor instalou-se no espírito
Mas a vontade de te possuir
Fez-me querer prolongar
O momento inesquecível
Da mistura dos nossos suores
Sentir-te era tudo o que eu queria!

A Verdade

Se um dia a verdade conheceres
Não mais quererás afastar-te.
É dura, nua e fria...
É um cubo de gelo que pode
Fazer a tua pele arrepiar-se,
Mas também pode dar-te o prazer,
O prazer indescritível do oposto,
O calor e o frio unem-se...
Complementam-se num deleite
E dão vida a um novo sentir.

Se um dia a verdade sentires,
Não mais a deixarás partir.
Sentirás o teu mundo mais leve
Sobre os teus ombros cansados,
Cansados de tanta mentira
Que eu massajo, acaricio
Com uma loção de verdade
Misturada com muita ternura...

Sei que não és meu, sinto
Que nunca serás, estou certa,
Mas deixa-me disfrutar do prazer,
O prazer de te ter, sabendo
Que, mais logo, partirás...
E não mais voltarás!

Esquecerei isso no momento
Que a Lua nos cobrirá com seu manto.
Lembrarei apenas o que tu
E só tu me fazes sentir...

Acordar para a realidade

A mentira que agora te faz sorrir,
Amanhã te levará ao pranto
E, assim, acordar mais uma vez
Para a realidade nua e crua.

O Sol assiste ao nosso encontro
Para, logo a seguir, adormecer.
A Lua cobre o nosso deleite
Com o seu manto de prata.
Prazer louco que quero eterno,
Furor selvagem que me fez sentir,
Mais uma vez, mulher!

Onde está o prazer que juravas ter
Quando os nossos corpos se tocavam,
Confundindo os nossos suores?
Desapareceu com a tua partida,
Com o teu regresso a casa,
Com o findar desta história...

Ou será que nunca existiu,
Foi forjado, foi fingido?
Maldita mentira, doce ilusão
Que fere o meu coração
E me fez chorar de tanta dor
Porque mais nada posso sentir!

Hoje sou pedra que se desgasta
Para amanhã se partir em pedaços.
Um dia serei nuvem e partirei
Levada pelo vento para longe,
Para um lugar belo e verdadeiro.
Serei mulher, serei feliz!

Não, não vou ficar aqui à espera
Agora, vou partir à descoberta
De um novo mundo, de felicidade,
Da verdade nua e crua, natural
Que irão adoçar a minha alma
Serei mulher, serei feliz!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Vem buscar-me, finalmente!

O veneno que fizeste penetrar em mim
E percorrer celeremente as minhas veias
Atingiu a meta, arrancou-me a vida,
A vida que um dia eu tanto prezei...
Já não ambiciono percorrer a estrada
Que me levaria a lugares misteriosos e belos,
Percorro agora um caminho tortuoso, nas trevas
Que me leva a lugar nenhum... Não!
Já não tenho meios com que lutar,
Nem, tão pouco, um fim para alcançar.
Deixei a vida, deixei de amar
Para, finalmente, a morte me levar.
Sem razões para olhar para trás e ver,
Sem nada nem ninguém para lamentar
Ter deixado de ver, sentir, beijar, abraçar...
Ninguém chorará a minha morte
Que, de tão estúpida, não tem razão de ser.
A minha vida é arrancada pela raíz
À Terra-mãe que a viu nascer, para que
Jamais alguém como eu possa renascer.
Semente maldita que foi irradicada,
Pois semente maldita não é desejada!
Injecção, veneno, morte letal,
Vem buscar-me, finalmente!

Sou nada mais que a propria morte

Dor impiedosa que me fere
E me envenena com revolta...
Abandono-me na floresta
Seca, sombria, sem misericórdia
E fico à mercê dos abutres
Que aguardam, nas trevas, a minha morte.
Já não sinto o meu corpo
E a alma abandonou-me.
Nada mais me resta que aguardar
O vulto negro, sem rosto, implacável
Que se aproxima em passos largos e firmes.
Ouço, aturdida, a sua voz que me chama...
Já não existo, não sou memória,
Não sou nem serei recordada
Como ser querido, com saudade.
Ninguém visitará a minha sepultura
Para me dizer o quanto sente
Minha tão dolorosa morte.
Do pó vim, em pó me transformei,
Pó que agora se espalha na estrada,
Estrada negra, sem fim, que ninguem percorre...
Sou nada mais que a própria morte!

Será?...

Num enlevo de fantasia
Que as palavras sussurradas
Provocam em teus sentidos,
O teu prazer imponente
Soltava uma lágrima de desejo
Para explorar a gruta aconchegadora
Que te aguardava ansiosa.
Dentro dela, o teu pulsar contra o meu
Interagem numa cumplicidade
Inata, selvagem, plena de vida.
Envoltos em carícias, atingimos o cume
Da montanha que nos propusemos subir.
Pelo seu ventre fomos presenteados
E da sua nascente bebemos extasiados.
Num manansial de frutas silvestres
Alimentamos o nosso desejo...
Selvagens, saciamo-nos avidamente,
Como se fosse esta a última vez...
Será?...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Foi o teu maior erro

Serpente venenosa que um dia,
Com o sibilar da tua cauda,
Me encantaste para, logo em seguida,
Penetrares nas minhas veias o teu suco mortífero.
Fizeste-me gritar de dor, deambular nas trevas,
Rastejar, já sem forças, até ficar moribunda.
Finalmente, imaginando-me morta
Pelo cansaço e pelo veneno, baixaste o cerco,
Planeando voltar mais tarde,
Para um faustoso banquete... Foi o teu maior erro!
Um anjo apareceu e me levou em seus braços
Para longe da morte sob o teu domínio.
Pensavas devorar-me, deliciar-te com a minha carne
Quando o teu desejo de sangue voltasse...
Foi o teu maior erro!

Não, não e não!

A minha alma não ficou nas trevas,
Apenas por lá passou...
A réstia de esperança que nela ficou
Apenas se esconde dos perigos
Que a continuam a aterrorizar.
Por ela, resisti a intempéries sem fim...
Regresso à cabana por nós construída à beira-rio,
Rio rebelde, de águas revoltas,
Apenas para disfrutar e reflectir...
Trazer à memória bons momentos, apenas.
À noite, no baloiço do alpendre, olho as estrelas
Que me contam histórias e me fazem sorrir.
De manhã, sento-me na margem do rio,
Sentindo a frescura das suas águas em meus pés.
Não me atrevo a nele mergulhar:
Receio na sua corrente deixar-me levar...
Não, não e não! Não voltarei a sentir
A envolvência das suas águas misteriosas!
Resisto à tentação, luto contra a vontade
Contra conclusões empíricas, pensando que,
Desta vez, poderei ser feliz... Não, não e não!
Ficarei na margem do rio, olhando,
Admirando os reflexos do sol, inquietos,
Tão cheios de esperança... com uma vida tão curta!
Quando o Sol desce para beijar o vale,
Recolho, mais uma vez, à cabana fria,
Vazia, desde o dia em que partiste.
E aguardo a noite, ansiosa,
Para que as estrelas me façam companhia
E me façam,mais uma vez, sorrir.

Alma minha

Pensei em não voltar a ver a luz do sol,
Como sinal de que me encontrava vivo.
Não vivo de coração e mente a funcionar,
Mas sim vivo de alma, plena de sentimentos.
Voltar a sentir, foi renascer,
Voltar a abrir os olhos e vê-la a meu lado;
Estender o meu braço, sentir a sua pele,
Macia como a de um bebé;
Ouvir os seus suspiros, ver os seus sorrisos, sonhando
O perfil do seu corpo feminino debaixo dos lençóis,
Deixando-me mergulhar no rio de águas puras
E corrente forte do seu olhar
Ah, como é bom deixar-me ir na corrente
Até ao seu estuário, onde posso sentir a sua luta
Pela entrada no oceano, cheio de mistérios e perigo
E gritar com toda a força dos meus pulmões,
Incitando a sua coragem, dando-lhe força,
Toda a força que ela precisa para seguir em frente.
Sigo-a no seu destino desconhecido,
Porque, desde o dia em que a vi dançar na areia,
Deixaram de existir dois caminhos solitários:
O seu é o meu também: somos, agora, um só ser,
Seguindo um só caminho, iluminado pelo amor,
Aberto pela coragem e pela força da alma
E não será a paragem de um coração, a morte de um corpo
Que nos vai separar: estaremos sempre lado a lado...
Sente-me como eu te sinto, alma minha!

A esta praia cheguei...

A esta praia cheguei só, de sentidos alerta, mas,
Nesse mesmo momento vi, que afinal não estava só:
Houve alguém que, ao chamar-me musa, me fez sorrir,
Alguém que me abrigou, protegeu
E aconchegou para que eu não me magoasse,
Nem partisse, de novo, à deriva.
Alguém, cujo sorriso me encantou,
Pela sua pureza, pela sua liberdade
Como as asas de uma águia.
E à nossa música, vou juntar os nossos sorrisos:
É ao seu sorriso que eu devo a minha alegria!
Isto é o começo de uma nova esperança,
São os primeiros dias do resto da nossa vida,
É uma aurora nos corações de dois amantes,
É o anoitecer de duas vidas vividas num inferno,
É a chama que se transforma: não há mais mágoa:
Somente aquele fogo que aquece, afaga e apaixona
Dois corações, dois olhares, fusão de almas
Que se magnetizaram para sublimar as suas forças...

sábado, 19 de janeiro de 2008

A Musa

Aquela criança que eu vi dançar na areia,
Libertava um doce perfume de rosas
Que se misturava com a brisa marítima
E eu chamei-lhe musa...
Desde ai, essa criança provou ser mais,
Muito mais do que uma simples musa:
É o sorriso da minha alegria,
As palavras do meu poema,
A amarra, o porto seguro,
O aconchego, o corpo que se aninha no meu colo,
A chave do meu coração.
Com ela aprendi que amor não é paixão,
Mas a paixão pode ser alimentada pelo amor.
Com ela junto a mim, a minha alma renasce
E a criança mostrou a nova Mulher que é;
E eu vou amá-la e protegê-la,
Como o novo Homem que sou!
Isto é o começo de uma nova era,
Alma minha que despertaste
Com a chegada de outra alma,
Cuja beleza completa a tua amplitude!

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O encontro

Livro escrito a dois, num só
Em folhas que se viram
Sem que os dedos as toquem:
Só com o olhar, só com o pensamento,
Só com o querer, querer tão forte
Que, de tão forte, se realiza!
São pétalas das flores que me deste
Que eu plantei no nosso jardim
Regadas por lágrimas de amor,
De felicidade, de vida...
Versos belos, escritos no banco do nosso jardim.
Jardim só nosso que cresce em carinho,
Amor, dedicação, poesia da alma...
Deus meu, quanta gente sonhará
O encontro de alma bela como esta
Que se propõe amar para além da vida.
Sonhos que o não são mais porque acordámos
E vimos o querer muito mais belo
E, de tanto querer, se realizou...
O encontro!

Regressa, Ulisses, livre e feliz!

Danço na areia ao som da música
Que ouço dentro de mim, vinda de ti.
A Lua ilumina os meus passos,
Reflectindo a luz que o sol lhe dá.
Adormeço à beira-mar, embalada pela tua música.
Acordo com o Sol a desejar-me “BOM DIA”,
Com o grito da gaivota que passa feliz,
Com os aromas da terra que me ofereces
E dos néctares que me trazes da tua longa viagem.
Espero pelo teu regresso para que,
Aninhando-me no teu colo, me aconchegues;
Que possa esquecer a dor da tua ausência.
Fico a olhar o horizonte, tentando deslumbrar
A ave que me trará a boa nova
De que, em breve, meu Ulisses,
Chegarás para expulsares os medos
Invasores do nosso Lar.
Regressa, Ulisses, livre e feliz!
A tua Penélope anseia pela tua chegada,
Como repasto da sua alma.
Envio-te a minha chave para que a uses
Como espada contra os inimigos
Que te obstruem o caminho e te atrasam...
Regressa, Ulisses, livre e feliz!

Em busca da felicidade

Parto em busca da felicidade,
Com a promessa que não mais
Regressarei ao passado que me fere.
Parto em busca da paz,
Com a esperança a iluminar
Um caminho outrora em trevas.
Parto em busca da liberdade,
Acordada para a vontade, o querer
Amar o teu porto seguro
Que me protege, livre.
Não mais sentirei o abandono,
A dor da ilusão, o precipício do sonho
Numa realidade que me aconchega.
A música da tua alma
Faz o meu coração bater mais forte
E sinto os aromas que exalas
Que me guiam no meu caminho
Para o encontro com a vida...
O nosso encontro, o nosso amor!

Doce despertar

Doce despertar que me revelou
A beleza da madrugada.
Nunca a vi tão bela como agora,
Ao despertar para a vida.
Sou aquela que nunca desistiu
De lutar por aquilo que quer.
Sou aquela que chegou ao teu porto seguro
E recebeu com o deleite do prazer
E o enlevo da alma, as amarras...
E de um arco forte, parte a flecha
Em direcção ao seu alvo, agora à vista,
Em direcção à liberdade, à paz, enfim, à felicidade!
Bem hajas, alma gigante
Que me deste o conhecimento,
A luz que me ilumina.
És os dedos que afagam o meu cabelo,
És os lábios que recebem as minhas lágrimas,
És os braços onde me aninho,
Depois da saída vitoriosa
De uma luta contra os medos...
Amor, doce despertar para a vida!

Este domingo, de madrugada

Este domingo, de madrugada, uma parte de mim murchou.
Durante a alvorada, essa mesma parte morreu...
Contudo, fica a alma a sentir
A dor do engano, da dúvida, da solidão,
A dor do rasgo, provocado por um grito
Que se sente ter sido dado em vão...
Quanto sangue esta dor faz derramar?
Quantas lágrimas esta alma vai chorar?
Pediste-me que desfolhasse o nosso livro
Devagar, com jeito...
Mas acabaste de rasgar as pétalas
E destruíste os lírios plantados no nosso amado jardim...
Como poderemos acalmar exaltações
Se as tílias caíram por terra, mortas?
O que não será preciso fazer, para reconstruir a esperança,
A força e a alegria desta alma?
Esta alma que se arrasta no pó da estrada
Para poder encontrar, de novo, toda a sua confiança.
Pedes-me para não esperar, para agir,
E não me deixar levar por palavras, simplesmente te ver...
Não estás, por acaso, a pedir
Aquilo que tu próprio não podes dar?
Chora... e as tuas lágrimas regarão os lírios
E a dor desta alma também...